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DO GRAFFITI À MODA: A Jornada de Gabriel Veiz e sua collab com a Nest Panos

Atualizado: 8 de mai.


Como surgiu sua conexão com o graffiti e a arte urbana?


"Eu andava de skate na época e já desenhava bastante. Devia ter uns 12 anos em 1998. Já fazia uns dois anos que tinha uma galera pintando em Pelotas, acho que desde 1996. Tinha um painel muito clássico perto da minha casa, que eu sempre via voltando da escola. E a primeira revista de graffiti do Brasil que chegou nas bancas, a Graffiti Brasil, foi lançada em 1997, mas só chegou na minha cidade em 1998. Um colega meu de aula, que curtia muito a cena urbana e andava de skate, apareceu com essa revista e falou:

Pô, cara, a gente tinha que fazer isso aqui, né?

Foi assim que conheci o graffiti.

A gente convenceu uma colega de aula a comprar umas tintas pra pintar o quarto dela, com a ideia de que sobrasse tinta pra gente poder sair pintando na rua. E foi assim que tive meu primeiro contato com o spray. Depois disso, nunca mais parei."


O que te motiva a pintar? Qual é o sentimento que você busca expressar nas suas obras?


Sempre fui viciado em desenho. Acredito que toda criança tem essa forma pura de se expressar, seja pelo desenho ou pela dança. Eu desenhava muito. Lembro que, na terceira ou quarta série, minha professora de geografia chamou minha mãe para conversar. Ela mostrou meu caderno e disse:

— Olha isso, o Gabriel desenha tanto que eu não consigo entender a matéria, porque a borda de todas as páginas está cheia de rabiscos.

Acho que esse foi o primeiro relato que tive de alguém comentando sobre meus desenhos.

O contato com a rua foi o que me fez continuar. Ser adolescente na sociedade, dentro de uma cultura, e ter um certo reconhecimento... Isso me motivava. O pessoal via meu nome na rua, via meus pixos. Alguns sabiam quem eu era, outros não, mas comentavam. No meio daquele movimento, daquela cultura, eu era alguém.

Ainda mais vindo de uma classe baixa, sem status. Em Pelotas, há uma cultura de alta sociedade, algumas poucas famílias burguesas que são conhecidas. Mas eu fiquei conhecido porque espalhava meu nome pela cidade. Isso, de certa forma, me motivou a seguir.

Com o tempo, a vontade de desenhar e pintar me fez evoluir. E quanto mais eu evoluía, mais visibilidade ganhava, não só na cidade, mas também na cena do graffiti. Isso me permitiu conhecer muita gente que acabou virando meus amigos. A cultura me motiva a pintar. Meu lifestyle, o que eu vivo, me motiva a pintar. Toda a minha vida foi gerada através dessa cultura.

Os amigos que tenho, as coisas que conquistei, tudo veio do graffiti. Minha vida é o que eu faço, é como me expresso nas ruas.

A sociedade é seletiva: ou você tem grana ou tem visibilidade. De certa forma, sou visto e reconhecido. Faço projetos sociais, dou aula de pintura, e só faço isso porque comecei a pintar. Uma coisa leva à outra.

No começo, tudo era muito puro, sem pretensão. Era só a vontade de me expressar, e a rua era minha tela. Minha galeria de arte acabou tendo um certo reconhecimento. Quando estou pintando, esqueço de tudo. Sou eu comigo mesmo. É eu e o muro. O graffiti me faz esquecer do sistema, do mundão. É como uma meditação.


Como foi a parceria com a Nest Panos? Como rolou a collab?


A parceria com a Nest Panos vem da movimentação do Hip Hop e da vontade de manter a cultura viva.

Nada mais natural do que um escritor de graffiti desenvolvendo estampas para uma marca criada por um b-boy. O Hip Hop é paz, amor e união. Essa conexão fortalece a cultura. Já que todo mundo precisa se vestir, que seja com algo da nossa cultura.


O que torna essa collab especial em comparação a outros projetos que você já fez?


Essa colaboração é algo que vem da cultura para a cultura. Quando uma marca de dentro do Hip Hop valoriza a estética do graffiti — que é uma das vertentes dessa cultura —, isso torna a coleção especial. E também faz com que o artista se sinta parte desse meio.

A maioria das marcas que a gente vê hoje são do streetwear, mas muitas estão mais focadas no capital do que na manutenção da cultura. Então, poder trazer algo muito pessoal, algo que eu faço sem pretensão de venda, status ou qualquer outro interesse comercial, e ver isso transformado em um produto é muito gratificante.

Quando peguei o moletom nas mãos e vi minha arte estampada ali, com o meu wildstyle, a sensação foi de pura felicidade. Mas o mais louco de tudo foi a repercussão. A galera do graffiti começou a me mandar mensagens dizendo: "Mano, que louco esse moletom com teu wildstyle gigante nas costas! Tá pesado demais! Tu colocou tua letra ali dentro, eu quero um desses!".

Isso é o mais gratificante, porque, para um escritor de graffiti, vender a própria identidade para uma marca é algo muito difícil. Normalmente, a função do grafiteiro é pintar no muro, deixar sua arte ali, fixa em um lugar. Mas quando tu vê o teu wildstyle, que antes ficava parado na rua, agora circulando no corpo das pessoas, é outra sensação. A arte vira um outdoor ambulante, passando por vários lugares — um restaurante hoje, um cinema amanhã, uma escola, um trabalho... Ela alcança espaços que tu nem imagina.


Na primeira coleção que fiz com o pessoal, trouxe minha identidade de forma muito direta, com minha letra mesmo, meu wildstyle trançado, escrito "Veiz". Sempre me inspirei nos escritores antigos de wildstyle. Mas, nessa última coleção, quis fugir um pouco desse lado mais egocêntrico, de estampar minha própria letra de novo, e focar mais no Hip Hop como um todo.

Dessa vez, criei um wildstyle escrito "Hip Hop" para homenagear a cultura. Já tinha esboçado essa letra há um tempo no meu sketchbook e queria muito pintar na parede. Quando o William veio trocar ideia comigo sobre a exposição, pensei: "Mano, eu tenho algo que quero lançar agora e que conversa muito com toda a cultura".


Qual a importância do desenho?


Várias partes do meu dia eu passo desenhando, e a galera tem que entender que o teu desenho é o que vai dar mais ênfase para a tua pintura, né? Então, é muito importante poder praticar muito o desenho. Eu desenho há vinte e tantos anos, todos os dias, no mínimo umas oito horas por dia.

Então, se tu for olhar, eu tenho muitos sketchbooks com muitos esboços, e às vezes eu tiro ideias de sketchbooks com coisas que eu desenhei há quatro, cinco anos atrás. Aí eu olho hoje em dia e falo: "Cara, eu posso lapidar isso aqui, transformar de um jeito melhor e usar para uma outra pintura, uma outra situação."

Mas essa função de tu praticar, de tu desenhar, de tu poder errar — e tu tem que errar, né? — é através do erro que a gente acerta. Então, é muito importante tu esboçar, tu soltar tua mão, soltar tua criatividade. Porque tu vai desenhar uma coisa de um jeito, aí tu vai olhar e vai falar: "Pô, não ficou muito legal." Aí tu já vai mudar uma outra coisa e vai falar: "Pô, mas isso aqui ficou legal!" Então, já posso usar isso aqui que ficou legal. E, a partir daquilo ali que ficou legal, tu pode lapidar e já, a partir daquilo ali, montar outra coisa: "Tá, mas não gostei disso... Mas posso mudar isso."

Mas é só através do desenho que tu vai conseguir enxergar algumas coisas. E se tu não colocar isso no papel, se tu não esboçar, tu não vai conseguir enxergar outras coisas.

Então, essa função do desconforto... Eu acredito que o desconforto é o que te leva à evolução, né? Então, tu nunca pode estar confortável, senão tu não vai evoluir. E parece que eu nunca tô confortável com o que eu faço, por mais que às vezes a gente receba elogio: "Nossa, tá foda pra caralho!" ou "Não sei o quê..." Eu sei que eu sempre posso fazer algo diferente.

Então, eu tô sempre desenhando todos os dias, N movimentos, N coisas, pra ver se eu consigo, cada vez mais, diferenciar a minha letra de uma certa forma, pra ela chegar em algo diferente, com um flow bom, sabe?


Qual a sensação de sair da sua cidade e poder pintar com grades nomes do graffiti mundial?


Tantos anos atrás a gente sonhava — até me arrepiei — mas nem eu, nem a gente sabia... Não passava pela minha cabeça: "Ah, um dia eu vou pintar no Brooklyn com os grafiteiros old school do Brooklyn", que são o pessoal local do Brooklyn, que estão lá pintando há 30 anos. E você ser bem recebido pelos caras, te elogiarem, elogiarem teu trampo... Isso não passava na nossa cabeça.

Na verdade, 20 anos atrás, meu sonho era pintar com o Binho, entendeu? O Binho, hoje, faz parte da mesma crew que eu. A gente é da mesma crew, entendeu? Nós dois somos da mesma crew. E esses caras... Quando a revista chegou — porque, pra nós, a gente só tinha revista de graffiti do Brasil — cara, esses caras, quando a gente começou, o nosso sonho era poder pintar com eles e ser aceito por eles.


Hoje em dia, a gente é amigo dos caras. Somos da mesma crew, sabe? E depois de um certo tempo, tu vê as tuas referências acabarem se tornando... tu te tornando referência para as tuas próprias referências, né? E tu poder estar no meio deles, e eles te valorizarem como escritor... Isso é algo... como que eu posso te dizer... inenarrável, porque eu não sei nem como expressar o que eu sinto.

É tipo... Eu sempre digo pra galera que eu vivo o meu sonho. Hoje em dia eu vivo o meu sonho, né? E, cara, eu gostaria que todo mundo pudesse viver o seu sonho, porque é uma sensação única.

Então, eu não tenho como te caracterizar um sentimento ali... É totalmente inenarrável mesmo, a sensação que eu senti. Principalmente de pisar no Brooklyn, que foi onde tudo aconteceu, né? No Bronx, no Brooklyn... Cara, tu tá lá, pintando com os caras, e os caras te recebendo na quebrada deles, né? Old school, cara... Sei lá, eu realizei mais um sonho.

E tu vê que tu saiu de lá, e hoje em dia tu chegou na tua cidade, e os caras estão te mandando mensagem, perguntando como tu tá, te respondendo teus stories ali, elogiando teus trampos, dizendo: "Quando é que tu vai voltar? Quando que a gente vai se pintar de novo?", sabe?

Então, tipo... Tu sabe que, cara, tu realizou um sonho ali. Tu venceu, né? Venceu.


" Esta entrevista você pode conferir na integra no nosso canal do Youtube."




 
 
 

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